A (7ª) SÉTIMA ARTE
Sou cinéfila até ao tutano. Desde os meus 9/10 anos quando ia ao cinema ver aqueles filmes de cowboys italianos, o chamado western spaghetti, que o cinema me fascina.
Mais o europeu que considero verdadeiras obras de arte, sem tiros falsos e manias de grandezas. Mais real.
Aliás o neo-realismo intaliano é ainda hoje um assombro.
Desta feita, queria partilhar a minha última ida ao cinema para ver o filme "UM COMPLETO DESCONHECIDO" sobre a vida e obra do famoso cantor folk, Bob Dylan.
Para além dum trabalho de actores digno de registo, nomeadamente Timothee Chalamet, que se não ganhar o Oscar este ano, ficará lá perto, tudo o que é retratado no filme remete-nos aqueles medonhos anos 50/60, onde os USA estavam como estão hoje. Exactamente iguais: racistas, anti-comunistas que ninguém ainda percebeu onde foram buscar semelhante obsessão, e com lutas e guerras internas que facilmento foram abafadas abatendo cada um dos líderes.
Resumir um filme ao Bob Dylan só porque trata da vida dele, é dum discurso redutor que só pode sair dum cérebro pouco desenvolvido.
Todos os filmes, e esse é sempre o fascínio do cinema, tratam muito mais do que aquilo que se anuncia.
Este é um desses casos e ainda bem.
Na verdade, o que nos separa dos anos 60 será a tecnologia, porque em termos de comportamento e fazendo uma analogia, os comportamentos humanos pouco ou nada evoluiram.
Com a simpática idade de 83 anos, não sei o que pensará o Bob Dylan do actual panorama social, mas presumo que não deve diferir muito do que pensava aos 20 anos.
Soprando no vento
Blowin' In The Wind
Quantas estradas um homem precisará andarHow many roads must a man walk down
Até que possam chamá-lo de homem?Before you call him a man?
Quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoarHow many seas must a white dove sail
Até que ela possa dormir na areia?Before she sleeps in the sand?
Sim, e quantas balas de canhão precisarão voarYes, and how many times must cannonballs fly
Até serem para sempre banidas?Before they're forever banned?
O cinema é uma arte, considerara a 7ª Arte, e como arte, ela expressa toda a posição, análise, crítica e mexe com a consciência das pessoas.
Há realizadores perseguidos, (Michael Moore um deles), porque em tudo o que fazem para a 7ª Arte, está a exposição da verdade, o questionamento sobre determinados aspectos sociais, acutilâncias a sistemas instalados, e claro, ao poder isso não interessa.
Como lamento que estejamos todos reduzidos a ver em casa seja através das plataformas de Streaming ou canais de televisão, a ver filmes que deveriam ser vistos no grande ecran exactamente porque é nesse ambiente, com essa dimensão e envolvimento que um filme e a sua mensagem consegue chegar mais fundo.
Obviamente que o número de pessoas que ocupavam a sala de cinema, estavam todos, com algumas excepções entre os 50 e os 70 anos. Curiosamente havia alguns jovens, que por motivos que naturalmente desconheço, saíram (2 deles) a meio do filme. Acredito que tenham sido motivos pessoais, porque quem escolhe ver um filme deste no mínimo informa-se antes.
Independentemente, e também focado, romance entre o Dylan e a icónica JOAN BAEZ, cujo filme biográfico também esta nos cinemas actualmente, ter sido o que arrastou a imprensa na época do apogeu da carreira deles, actualmente maduros e bem resolvidos, assim se acredita, o que os terá unido foi muito mais que uma paixão. Foi todo um contexto social e reenvindicativo que naquela altura, e também hoje faz sentido.
A Joan Baez ajudou a imortalizar algumas das músicas dele.
Hoje deveriamos voltar a ouvi-las. Porque felizmente ou infelizmente, tudo continua a fazer sentido
Com toda a certeza que o Bob Dylan já não viverá tanto tempo quando o que viveu até hoje, mas a obra perpetua-se no tempo.
Isto separa o comum dos mortais dum génio, que com defeitos e virtudes, deixará para todo o sempre a marca indelével na história da música mas sobretudo das letras. Afinal não terá sido por acaso que lhe atribuiram um Prémio Nobel (por acaso nem o foi receber).
O rapaz subversivo de 20 anos é o mesmo rapaz de 83. Não entra nos protocolos e muito menos nas hipocrisias a que muitos se submetem.
Nesse aspecto, abençoado seja.
Recomendo sempre uma ida ao cinema, como recomendo a um museu a uma exposição, a uma peça de teatro, ou a um concerto.
O que não recomendo, é "comerem" lixo cinematrográfico ou de qualquer outra forma de arte sem observar, analisar, criticar, interiorizar e seleccionar.
Em 1912 Ricciotto Canudo no "Manifesto das Artes" (só publicado em 1923) atribuiu ao cinema a 7ª arte.
1ª Arte - Arte sonora (som)
2ª Arte - Arte cénica (movimento)
3ª Arte - Pintura (cor)
4ª Arte - Escultura (volume)
5ª Arte - Arquitectura (espaço)
6ª Arte - Literatura (palavra)
7ª Arte - Audiovisuais (audiovisual)
Ir ao cinema não pode ser apenas para "passar o tempo", porque dificilmente vamos ao teatro a um concerto, ou a um ballet, só porque não temos nada para fazer.
Regra geral vamos, porque precisamos dessa beleza, desse momento e dessa meditação que esses eventos nos proporcionam.
O cinema também e por isso a escolha dum filme tem de ser bem feita, para não cairmos no engodo da imagem que nos anestesia, quando nos deveria fazer pensar e vibrar.
Batendo Na Porta do Céu
Knockin' On Heaven's Door
Mãe, coloque minhas armas no chãoMama, put my guns in the ground
Eu não posso mais atirar com elasI can't shoot them anymore
Aquela nuvem negra e fria está descendoThat cold black cloud is coming down
Sinto como se estivesse batendo na porta do céuFeels like I'm knockin' on heaven's door
Bons filmes! Boas reflexões! Boas instrospecções!
Abraço de luz
Até à próxima partilha!
💙
Nota: Pediram-se para colocar os texto mais nítido, espero que tenha ficado, e que seja mais fácil a leitura.